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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Polícia ainda não teve acesso a plano de combate a incêndio de boate


Delegado diz que procura documento com a prefeitura e com os bombeiros.
Ele afirma que está sendo investigado se espuma estava irregular.


  O delegado Marcelo Arigony, um dos responsáveis pelo inquérito que investiga as causas do incêndio que aconteceu na boate Kiss, disse nesta quinta-feira (31) que a polícia ainda não teve acesso ao plano de prevenção e combate a incêndio do local. Na madrugada do último domingo (27), um incêndio na boate deixou mais de 230 mortos.

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"Dentre os documentos encaminhados, numa análise preliminar, nós ainda não encontramos o plano de prevenção. Oficiamos para dez instituições. Estamos pedindo este plano para a prefeitura e para os Bombeiros. Não sabemos nem quem tem este plano", disse o delegado.
Segundo Arigony, a causa das mortes na boate Kiss foi a fumaça que saiu da espuma que revestia o teto da boate. A espuma era usada para proteção acústica do local.
"Isso (espuma) foi a causa da morte. O que era inflamável era isso. Isso foi colocado para melhorar a acústica do local e vamos verificar. O local onde não tinha a espuma praticamente não queimou. Isso queima muito rápido e emite um gás. Foi a acusa", disse o delegado.
Segundo o delegado, ao que indica, a espuma utilizada não possui uma espécie de camada protetora que reduziria os riscos de incêndio. "Parece que estava irregular, mas a polícia está investigando", disse.
Novo depoimento
Ainda nesta quinta, o delegado afirmou que foi ouvido o depoimento de um dos donos da empresa Hidramix Prestação de Serviço. Segundo o delegado, o empresário disse que os outros dois sócios da empresa são um bombeiro da ativa e outro da reserva. Ele disse ainda que a empresa foi responsável por instalar a barra de ferro da porta da boate.
Prorrogação das prisões
O delegado que ainda esta trabalhando para pedir a prorrogação das prisões dos sócios da boate e dos integrantes da banda que estão detidos desde segunda-feira. As prisões temporárias dos quatro vencem nesta sexta-feira. "Não pedímos ainda (a prorrogação). Estamos trabalhando para pedir a de todos", disse o delegado.
De acordo com o delegado, a polícia ainda não tem informações concretas sobre quantas pessoas estavam na boate na noite da tragédia. Ainda segundo ele, o alvará que já está em poder da equipe de investigação mostra que a capacidade seria para 691 pessoas.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, deixou 235 mortos na madrugada do último domingo (27). O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores, é possível afirmar que:
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio não funcionou.
- Havia mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
- Equipamentos de gravação estavam no conserto.
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Prisões
Quatro pessoas foram presas na segunda por conta do incêndio: o dono da boate, Elissandro Calegaro Spohr; o sócio, Mauro Hofffmann; o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos; e um funcionário do grupo, Luciano Augusto Bonilha Leão, responsável pela segurança e outros serviços.
Investigação
O delegado Marcos Vianna, responsável pelo inquérito do incêndio na boate Kiss, disse ao G1 na terça-feira (29) que uma soma de quatro fatores contribuiu para a tragédia ter acabado com tantos mortos: 1) o fato de a boate ter só uma saída e a porta ser de tamanho reduzido; 2) o uso de um artefato sinalizador em um local fechado; 3) o excesso de pessoas no local; e 4) a espuma usada no revestimento, que pode não ter sido a mais indicada e ter influenciado na formação de gás tóxico.
O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, afirmou também na terça que a Polícia Civil tem "diversos indicativos" de que a boate estava irregular e não podia estar funcionando. "Se a boate estivesse regular, não teria havido quase 240 mortes", disse em entrevista. "Mas isso ainda é preliminar e precisa ser corroborado pelos depoimentos das testemunhas e os laudos periciais", completou.
Arigony disse ainda que a banda Gurizada Fandangueira utilizou um sinalizador mais barato, próprio para ambientes abertos e que não deveria ser usado durante show em local fechado. "O sinalizador para ambiente aberto custava R$ 2,50 a unidade e, para ambiente fechado, R$ 70. Eles sabiam disso, usaram este modelo para economizar. Usaram o equipamento para ambiente aberto porque era mais barato”, disse o delegado.
O vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos, admitiu em seu depoimento à Polícia Civil que segurou um sinalizador aceso durante o show, de acordo com o promotor criminal Joel Oliveira Dutra. O músico disse, no entanto, que não acredita que as faíscas do artefato tenham provocado o incêndio. Ele afirmou que já havia manipulado esse tipo de artefato por diversas vezes em outras apresentações.
Responsabilidades
A boate Kiss desrespeitou pelo menos dois artigos de leis estadual e municipal no que diz respeito ao plano de prevenção contra incêndio. Tanto a legislação do Rio Grande do Sul quanto a de Santa Maria listam exigências não cumpridas pela casa noturna, como a instalação de uma segunda porta, de emergência. A boate situada na Rua dos Andradas tinha apenas uma, por onde o público entrava e saía. Outra medida que não foi cumprida na estrutura da boate diz respeito ao tipo de revestimento utilizado como isolamento acústico.
A Brigada Militar informou nesta quarta que a boate não estava em desacordo com normas de prevenção contra incêndios em relação ao número de saídas. Segundo interpretação da lei, o local atendia as normas ao possuir duas saídas no salão principal. Mas as portas, no entanto, não davam para a rua, e sim para um hall. Este sim dava para a rua através de uma só porta. "Foi um ato possível que o engenheiro conseguiu colocar", disse o tenente coronel Adriano Krukoski, comandante do Corpo de Bombeiros de Porto Alegre.
Jader Marques, advogado de Elissandro Spohr, um dos sócios da boate, disse que a casa noturna estava em "plenas condições" de receber a festa. Ele falou sobre documentação da casa, segurança, lotação, e disse que a banda Gurizada Fandangueira não avisou que usaria sinalizadores naquela noite. O advogado ainda afirmou que o Ministério Público vistoriou o local "diversas vezes".
A Prefeitura de Santa Maria se eximiu de responsabilidade pelo incêndio e entregou alvará para a polícia que mostra data de validade de inspeção para prevenção de incêndio, feita pelo Corpo de Bombeiros. A prefeitura afirma que a sua responsabilidade era apenas sobre o alvará de localização, que é válido com a vistoria do ano corrente. O documento informa que a vistoria foi feita em 19 de abril de 2012.
O chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gerson Pereira, disse na quarta que a casa noturna tinha todas as exigências estabelecidas pela lei vigente no Brasil. "Quem falhou, que assuma a sua responsabilidade. Nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e não vou entrar em jogo de empurra-empurra", afirmou.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul abriu um inquérito civil na terça para investigar a possibilidade de improbidade administrativa por parte de integrantes da Prefeitura de Santa Maria, do Corpo de Bombeiros e de outros órgãos públicos por terem permitido que a boate Kiss continuasse funcionando mesmo com as licenças de operação e sanitária vencidas.
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Infográfico: tragédia de Santa Maria - 29/01 (Foto: Editoria de Arte/G1)

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